Ioschpe e Veja: Um ataque à democracia e à educação pública
14/04/2011
Apeoesp repudia “caça às bruxas” contra a representação sindical
Escrito por: Apeoesp
Artigo de Maria Izabel Azevedo Noronha (Bebel), presidenta da
Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São
Paulo), membro do Conselho Nacional de Educação e do Fórum Nacional de
Educação, responde a caça às bruxas contra a representação sindical.
As opiniões expressas pelo economista Gustavo Iochpe na revista Veja de
09/04 surpreendem pela virulência com que este articulista investe
contra os sindicatos de profissionais da educação. Ele simplesmente
propõe que as representações sindicais do magistério e demais
profissionais seja ignoradas nas discussões sobre educação! Na prática,
quer uma caça às bruxas contra os sindicatos, incompatível com o atual
estágio da democracia brasileira.
Em seu artigo ele “acusa” os sindicatos de lutarem pelo bem-estar de
seus associados. Extravagante seria se não o fizessem. Mas ele omite que
os sindicatos de professores e demais profissionais da educação têm uma
longa tradição de luta pela melhoria da educação pública e que parte
expressiva de suas propostas vem se tornando realidade nos últimos anos.
Há no Brasil hoje um forte movimento de valorização do magistério, que
compreende de forma clara a relação que existe entre essa valorização e a
qualidade do ensino. Esta tendência já se refletiu na decisão do
Supremo Tribunal Federal (STF) de declarar constitucional o piso
salarial profissional nacional como vencimento básico da carreira do
magistério, ou seja, sem acréscimos de qualquer natureza. O mesmo
certamente irá ocorrer quanto à nova composição da jornada de trabalho,
com 33,3% dedicados a atividades extra-classes, cujo julgamento foi
suspenso com cinco votos a favor e quatro contra, devido a
interpretações regimentais.
O Brasil vem formulando e implementando políticas educacionais que
apontam para a melhoria da qualidade do ensino, valorização dos
profissionais da educação, gestão democrática e a superação de déficits
acumulados ao longo de décadas graças ao diálogo entre as autoridades
educacionais e as organizações da sociedade civil, entre elas os
sindicatos dos profissionais da educação. O que Gustavo Iochpe expressa é
a reação a esses avanços da direita mais conservadora e de uma certa
elite que autointitula “social-democrata”.
A Conferência Nacional de Educação (CONAE) representou um momento
importante neste processo, envolvendo milhares de profissionais da
educação, estudantes, gestores, especialistas, pais, trabalhadores dos
mais diversos segmentos e centenas de organizações sociais na discussão
dos rumos da educação brasileira. Foram realizadas reuniões, debates e
encontros nas escolas e outros espaços, culminando em conferências
municipais, intermunicipais, estaduais e, finalmente, na CONAE, em
Brasília, no mês de abril de 2010.
A CONAE definiu as bases de uma nova política educacional que começa a
se concretizar no projeto de lei do Plano Nacional de Educação
2011-2020, já em tramitação no Congresso Nacional. Mas nada disso
interessa a Iochpe e os que defendem os mesmos interesses que ele. Ele
querem desqualificar os professores das escolas públicas e as políticas
educacionais para abrirem espaços cada vez maiores para a venda de
métodos, apostilas, consultorias e, se possível, tomar a gestão dessas
escolas, para torná-las mais “eficientes” e “produtivas”.
Não constitui surpresa, entretanto, que este senhor escreva tais
absurdos. Há anos ele vem se dedicando à tarefa de avacalhar todos
aqueles que se opõem à política privatista na educação e certamente os
sindicatos estão na linha de frente dessa resistência.
Em suas colunas na revista Veja ele afirma que o Brasil investe mais
que o suficiente em educação; que não há relação nenhuma entre o valor
dos salários pagos aos professores e a qualidade do ensino; que só
merece receber salário decente quem tiver seu “mérito” reconhecido pelas
autoridades educacionais; e por aí vai.
Ora, a política de “mérito” que esse senhor defende já mostrou seus
péssimos resultados no estado de São Paulo, tanto assim que o atual
governo, pelo menos verbalmente, vem manifestando a intenção de
abandoná-la. Uma das mais importantes mentoras do sistema de
meritocracia na educação norte-americana, a ex-secretária adjunta de
Educação dos Estados Unidos, Diane Ravitch, já declarou que esse sistema
não funciona e vem se dispondo a realizar palestras ao redor do mundo
para demonstrar isso.
Nos últimos tempos Gustavo Iochpe vem defendendo a ideia de que o
ensino infantil não tem importância nenhuma para o desenvolvimento da
educação e do país. Ele, na verdade, contrapõe o combate ao
analfabetismo à expansão das creches e pré-escolas. Ou seja, para ele o
país só deve combater o estrago já feito; nada de investir para prevenir
o futuro.
Curiosamente, todas as críticas e restrições do economista são voltadas
ao ensino público. Se para os filhos dos pobres creches e pré-escolas
não são importantes, nada é dito quanto às “escolinhas” privadas que
existem em cada esquina e aos bons colégios de elite que oferecem
educação às crianças desde a mais tenra idade. Ou seja, o que vale para a
elite não vale para o povão.
A revista Veja e o senhor Gustavo Iochpe são velhos conhecidos na
tentativa de demonizar os movimentos e sindicatos de professores,
estudantes e outros segmentos sociais que lutam pela melhoria da
educação pública e pela valorização de seus profissionais, por meio de
políticas de formação que atendam à escola real na perspectiva da escola
ideal que todos almejamos, carreira, salários dignos, participação da
comunidade, gestão democrática e outras medidas.
Iochpe, a revista Veja e os que os apoiam estão se movendo contra a
democracia e contra o livre direito de organização e expressão. A
sociedade brasileira não pode tolerar isso!
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