quinta-feira, 20 de junho de 2013

NOTA PÚBLICA DA  CNTE (CONFEDERAÇÃO DOS TRABALHAADORES EM EDUCAÇÃO) FILIADA A CUT.

Manifestações populares no Brasil

banner nota publica cnte pequeno
manifestacao contra copa
Desde o último dia 12, o Brasil tem sido palco de inúmeros protestos, organizados majoritariamente pela juventude, os quais tiveram início depois do anúncio de reajuste nos preços do transporte público em várias cidades do país.

A atual dimensão dos atos dá conta de que o transporte público é apenas um dos eixos das mobilizações. O povo nas ruas, embora sem lideranças tradicionais – seja de pessoas, seja de entidades organizadas – tem manifestado contrariedade com os gastos públicos para a construção de estádios da Copa do Mundo de Futebol de 2014, bem como com o histórico e insuficiente investimento público em educação e saúde, com o fisiologismo e a corrupção política nas três esferas da federação (União, Estados e Municípios), com a falta de democracia participativa, que possibilite a consulta pública periódica à sociedade sobre temas relevantes, a exemplo da destinação de 100% das riquezas do petróleo para a educação pública.
A CNTE solidariza-se com a pauta justa e urgente apresentada pela maioria dos integrantes desses movimentos de protesto, mas é contra atos de vandalismo, violência, saques e depredações ao patrimônio público e histórico, seguindo a própria orientação da maior parte dos manifestantes que tenta impedir essas ações durante as mobilizações.

Reconhecemos muitas das insatisfações populares – até porque elas constituem pautas permanentes da classe trabalhadora, em especial dos/as trabalhadores/as em educação – porém acreditamos que o Estado Democrático, no atual contexto civilizatório, deve ser preservado pela sociedade brasileira, sem riscos de retrocessos que marcaram a história do Brasil e do continente latino-americano.

Neste sentido, a CNTE considera pauta prioritária para a sociedade brasileira a reforma política, capaz de fortalecer os partidos – tornando-os efetivamente representantes dos diversos segmentos da sociedade – e de ampliar a democracia participava no país. O descrédito e a repulsa dos jovens manifestantes com a política (marca registrada nos atos pelo país) expressa a urgência dessa agenda para o Congresso Nacional.

Como consequência da reforma política, a juventude e o conjunto da sociedade brasileira devem exigir reformas estruturantes para consolidar o atual processo de desenvolvimento inclusivo e com oportunidades para todos, o que perpassa por reforma tributária, que priorize a progressividade dos impostos sobre a renda, por maior acesso dos jovens à escola, à universidade e ao emprego, pela garantia de saúde, transporte, segurança, habitação, entre outras políticas públicas previstas na Constituição Federal.

A CNTE entende, também, que as atuais reivindicações ocorrem num momento de consolidação das estruturas democráticas no Brasil e, consequentemente, de uma maior conscientização e liberdade de expressão que goza o povo brasileiro. Mas é preciso superar as práticas políticas anacrônicas, impostas pelas oligarquias que ainda comandam o Congresso Nacional e grande parte dos poderes nos estados e municípios, a fim de qualificar a política e de torná-la o principal espaço de disputa para os jovens, os trabalhadores e a sociedade em geral.

Por fim, é preciso ter atenção com os oportunistas de plantão, especialmente com a grande mídia – patrocinadora do Golpe Militar de 1964 junto com setores da burguesia nacional –, pois esta já tenta vincular os protestos populares à ações contra atores políticos que reconhecidamente têm promovido políticas públicas emancipatórias e de promoção da cidadania no país, com o claro propósito de confundir a opinião pública e assim tirar proveito em favor de setores retrógrados que tentam voltar ao Poder a qualquer custo. E caso isso aconteça, os protestos por mais avanços sociais estarão seriamente comprometidos.

São Paulo, 20 de junho de 2013
Diretoria Executiva da CNTE
FONTE:CNTE
 Revista Carta Capital 
Qual desfecho os protestos vão produzir?
A extrema esquerda sonha com a revolução socialista, enquanto a direita quer derrubar a Dilma na marra
por Chico Mafiltani — publicado 19/06/2013 13:56

[Manifestação em São Paulo]
Manifestante picha o prédio da Prefeitura de São Paulo, no início da noite de quarta-feira 18

Na quarta-feira 18, quase 30 anos depois do memorável primeiro comício das Diretas Já, voltei à Praça da Sé. Naquele 25 de janeiro de 1984, todas os mais de 500 mil manifestantes que estavam lá no comício (chamado pelo Jornal Nacional da TV Globo de "festa" pela comemoração do aniversário de São Paulo) queriam a mesma coisa: o fim da Ditadura com a realização de eleições diretas para Presidente da República.
Ao voltar lá encontrei uma maioria de jovens estudantes idealistas, em grande parte organizados pelo Psol, PSTU, Partido da Causa Operária, Partido Comunista Operário, União da Juventude Socialista, entre outros. Esses estudantes gritavam pela revogação do aumento da tarifa, contra a Rede Globo, o Datena, o governo (qual?), a Copa, o Haddad e por uma revolução socialista.
Os manifestantes de classe média preferem levar cartazes contra Dilma. Com o apoio da elite anti-PT nas redes sociais, querem derrubar Dilma e também cancelar a Copa. Enquanto bares, lojas e restaurantes do entorno da Praça da Sé fecham freneticamente as suas portas, seus empregados se juntam aos demais trabalhadores do centro, em apressados passos para os ônibus e metrô, para tentar chegar em casa, depois de mais um dia exaustivo de trabalho.
Chegam cada vez mais manifestantes. Bandeiras de partidos são baixadas no grito. Só a do Brasil pode tremular sob aplausos. Homens mais velhos e mais bem vestidos distribuem, às centenas, panfletos, em papel de boa qualidade conclamando empresários a boicotarem o pagamento de impostos. Outros estudantes gritam palavras de ordem contra os donos das empresas de transporte coletivo. Muitos gritam contra a corrupção dos políticos. Não se veem PMs. Uma parte da manifestação vai para a frente da Prefeitura. A principio, em paz . Mas um grupo comandado por um "parrudo" rapaz de camisa branca, mais bem vestido, cabelo bem cortado e máscara contra gás novinha começa o ataque à Prefeitura. Entre pedradas, chutes, tiros de rojão desferidos por ele, o rapaz de vez em quando para e fala ao telefone. E chama mais mascarados para o ataque. Seria um provocador de direita querendo ver o circo pegar fogo? Logo depois botam fogo de verdade, em um caminhão de transmissão ao vivo da Record.
Mesmo assim muitos jornalistas das tevês, rádios e jornais elogiam a manifestação. Engraçado, em 62 anos de vida não me lembro de ter visto cobertura de manifestação política do povo, tão divulgada e elogiada pela imprensa brasileira! Os mais velhos me dizem que na Marcha com Deus pela Liberdade em 64 foi assim. Naquela época eu só tinha 14 anos e não compareci. Mesmo se tivesse mais idade, não iria. Ela acabou deflagrando o Golpe de 64 e uma Ditadura horrorosa que atrasou o Brasil e durou mais de 20 anos. Com a extrema esquerda sonhando com uma revolução socialista e com a direita querendo, na marra, derrubar a Dilma e conseguir o que ela não consegue nas urnas, não sei onde tudo isso vai parar.
Espero que não seja em outro Golpe como em 64. Entre a Marcha de 64 e as manifestações de hoje, eu prefiro a das Diretas Já em 1984. Lá éramos mais numerosos e todos sabiam o que queriam e não escondiam de ninguém: o direito de, no voto, decidir o nosso destino! Como numa democracia!

FONTE: CARTA CAPITAL